O Ortônimo e Os Heterônimos

"Sou um evadido. 
Logo que nasci
Fecharam-me em mim, 
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa 
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser 
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me 
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela 
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo 
Mas vivo a valer."

Fernando Pessoa

     Ao contrário dos pseudônimos (falsos nomes criados por uma mesma pessoa) os heterônimos constituem várias pessoas que habitam um único poeta. Cada um deles tem a sua própria biografia, sua temática poética singular e seu estilo específico. É como se 'eus' fragmentados e múltiplos explodissem dentro do artista, gerando poesias totalmente diversas. O próprio Fernando Pessoa explicou os seus heterônimos:

     "Por qualquer motivo temperamental que não me proponho analisar, nem importa que analise, construí dentro de mim várias personagens distintas entre si e de mim, personagens essas a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos meus sentimentos e idéias, os escreveria.
      Assim têm estes poemas de Caeiro, os de Ricardo Reis e os de Álvaro de Campos que serem considerados. Não há que buscar em quaisquer deles idéias ou sentimentos meus, pois muitos deles exprimem idéias que não aceito, sentimentos que nunca tive. Há simplesmente que os ler como estão, que é aliás como se deve ler."

 

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